Um de meus estágios na Universidade se deu em ambiente não escolar. A entidade onde realizei meu estágio foi na Pastoral da Criança e devo reconhecer que fiquei muito surpreso com o que encontrei lá. É um ambiente onde realmente o amor é exercitado e, ao lerem o artigos vocês perceberão que tenho razão. Sou evangélico graças a Deus mas sei reconhecer quando um trabalho é bastante relevante para a nossa sociedade.Neste ensaio irei discorrer sobre o surgimento da Pastoral da Criança. O trabalho social desenvolvido em seu seio que abrange crianças de comunidades carentes não só de renda como também de informação. Analisando o trabalho de cidadania oferecido pela Pastoral, pude perceber a existência de uma estreita relação da mesma com o amor fraternal. A análise dessa relação levou-me a entender que, nesse âmbito uma não subsiste sem a outra tendo em vista que os trabalhadores que atuam nesse órgão não recebem remuneração para exercerem suas funções. Discorrerei também sobre como o exercício da cidadania acontece nesse contexto não escolar e sobre qual seria a mola mestre que impulsiona as ações comunitárias.
No ano de 1982, o diretor executivo da UNICEF James Grunt, durante uma reunião sobre a Paz Mundial na Suíça realizada pela ONU, sugerio ao cardeal brasileiro da igreja católica uma solução para reduzir a mortalidade infantil. A CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) acatou a idéia. O bispo D. Paulo Evaristo Arns convocou sua irmã a médica sanitarista Zilda Arns que, com o apoio de Dom Geraldo Majella Agnelo, acebisbo de Londrina na época, elaborou o projeto que hoje conhecemos como a Pastoral da Criança. O trabalho foi iniciado na paróquia de São João Batista no ano de 1983 na cidade de Florestropolis no estado do Paraná. Devido seu grande sucesso, a Pastoral da Criança se expandiu para outras regiões brasileira. Com base nos dados apresntados no site da entidade, atualmente a Pastoral da Criança acompanha cerca de 1.256.079 famílias, 1.598.804 crianças e 84.617 gestantes abrangendo 4.000 municípios, com cerca de 41.176 comunidades e 238.275 voluntários trabalhando.
Na cidade Patu a Pastoral da Crinaça chegou no ano de 1995 trazida por duas freiras Raquel e Terezinha, com o proposito de promover o fortalecimento das comunidades carentes de nossa cidade. De início, seu trabalho foi instalado no conjunto João Pereira batizando ali duas comunidades, a de nossa senhora de Fátima e nossa senhora Aparecida. Atualmente, o trabalho abrange 15 comunidades na zona urbana e 2 na zona ruaral e atende cerca de 334 crianças. Estão envolvidos no atendimento 42 volutários que, com o seu trabalho beneficiam 286 famílias.
Seu trabalho se divide em três momentos. Visita aos lares para o acompanhamento das crianças, dia da celebração da vida onde as crianças são pesadas e seus pais recebem orientações e o terceiro momento, onde os voluntários se reunem para a avaliação do trabalho realizado. Infelizmente não pude estar presente apenas em um desses momentos que foi a ultima reunião. Durante os momentos em que estive presente pude notar que o trabalho é muito significativo e de suma importância porém deixa uma grande lacuna. Os encontros não são sistematizado dificultando a eficácia do mesmo e é ai onde poderia entrar o trabalho do pedagogo.
Suas ações são desenvolvidas apartir de visitas aos láres de famílias onde existem mulheres grávidas ou crianças pequenas. Os responsáveis respondem um questionário que contem perguntas significativas a respeito da gestação ou do crescimento e desenvolvimento das crianças. Esse questionário ajuda na hora de tomar decisões a respeito das medidas a serem realizadas em cada caso. A culminância do trabalho acontece uma vez em cada mês num encontro intitulado “Dia da Celebração da Vida” onde as crianças são pesadas e seus responsaveis legais recebem orientações sobre diversos temas ligados à saúde, cidadania, nutrição e educação. Os líderes se reunem mensalmente para trocarem informações a respeito da situação das comunidades, tendo como objetivo principal a avaliação e o planejamento das ações comunitárias.
A ideia principal do projeto foi o combate a desnutrição, mas pelo que pude perceber, vai muito mais além. A Pastoral não só cuida da parte nutricional das crianças em crescimento como presta uma ajuda assistencial muito importante. Os pais são levados a conhecer os direitos que têm a sociedade organizada para o melhor andamento dos membros de suas famílias, como também o que fazer para adiquirí-los. É um trabalho que serve como uma espécie de ponte que liga as famílias aos orgãos do estado. Seu objetivo não é cuidar das famílias e sim ensiná-las a buscarem os meios que possam propiciá-las melhores condições de vida.
O que pude identificar durante as observações foi a dedicação dos funcionários na condução do trabalho. A indagação foi, o que faz com que pessoas deixem o conforto de suas casas em determinados dias específicos para visitarem outras famílias? A resposta foi uma só, a empatia. Segundo o dicionário aurélio empatia é a tendência que os indivíduos tem de sentir o que sentiria, caso estivesse ocupando o lugar do outro. Entre os voluntários pude encontrar pessoas que, durante seus discursos deixaram bem claro essa posição. Muitos acreditam que se não ajudarem aos outros, mais tarde poderão precisar de ajuda e não serem ouvidos caso haja um pedido de socorro. Acredito que esse sentimento não só permeia a Pastoral da Criança como também outros projetos que exijam o trabalho voluntário.
A cidadania é exercida em toda a sua plenitude. Segundo a Wikipédia, a enciclopédia digital livre, cidadania vem do latim civitas/cidade e que dizer o direito que os indivíduos tem de participarem nas direções dos negócios públicos do estado direta ou indiretamente. Os voluntários demonstram um certo compromisso com o que fazem pois acreditam, como Maria de Lourdes Manzini Covre, autora do livro “O que é cidadania” que a prática da cidadania serve como estratégia para promover uma sociedade melhor. Em meio ao consumismo exacerbado pelo qual estamos passando onde as pessoas vivem em detrimento do ter e não do ser, é muito satisfatório observar pessoas que se dão em troca do bem comum. Segundo o depoimento de alguns, cada criança que educamos hoje, é um bandido que não será punido amanhã.
Para que o trabalho da cidadania, de ajuda ao proximo possa acontecer é preciso que haja um sentimento que impulsione esse trabalho, esse sentimento chama-se de amor. Existem várias definições para essa palavra porém nenhuma concreta. Na lingua portuguesa essa palavra pode significar diversas outras como por exemplo, afeição, compaixão, misericórdia, como também atração ou inclinação para algo ou alguém. Sabemos que sentimentos não podem ser provados por meio de pesquisas porém, negar a existências deles seria desastroso pois nos igualharia a classe dos animais irracionais que só agem por instinto. Na Pastoral da Criança os voluntários se esmeram para dar o melhor de si, pude perceber isso no carinho com que tratavam as pessoas e que, por elas eram tratados. Claro que isso não se dava entre todos os voluntários, até porque pude presenciar casos em que a comunidade encontrava-se abandonada devido a falta de responsabilidade por parte de seu lider. Isso só torna mais evidente a minha idéia de que, sem amor é quase impossível de se realizar um trabalho voluntário.
Por ter nascido no ceio da igreja Católica Apastólica Romana, a Pastoral da Criança está recheada de conceitos religiosos. Em todas as reuniões um trecho da bíblia, livro adotado pelos cristãos como regra de fé e prática, é citado. Toda a filosofia da pastoral é regida pelo trecho bíblico: “Eu vim para que tenham vida, e a tenham com abundância”, encontrado em João 10.10b. O amor fraternal rege suas ações, segundo Bouguereau (1851), esse amor é algo que uni as pessoas. Segundo o apóstolo Pedro, esse era o tipo de união que identifica os verdadeiros cristãos. Tendo em vista que nos encontramos em um país considerado cristão a fraternidade é um conceito bastante utilizado pela Pastoral. Mas o que seria fraternidade?
Esse conceito encontra-se no primeiro artigo da declaração Universal dos Direitos Humanos firmando que: todos os homens nascem livres e iguais em dignidade e diretos. São dotados de razãos e de consciência e devem agir um para com os outros em espírito de fraternidade. Trata-se de um conceito filosófico estreitamente ligado às ideias de ligberdade e igualdade, é isso que essa ONG tenta trazer. Entendendo o homem como um animal político que escolheu viver em sociedade, ela tenta estabelecer entre os semelhantes uma relação de igualdade levando até as comunidades carentes informações e subsídios necessários para o seu desenvolvimento.
Durante minhas observações e análises dos fatos, como pedagogo em formação, cheguei a conclusão de que a Pastoral da Criança não é só lugar para pedagogo, até porque as atividades que realizei ali, qualquer pessoas poderia desenvolver. Ela é um lugar que precisa e que acolhe qualquer tipo de profissional que deseje trabalhar para o engrandecimento de sua cidade, de seu estado ou país. Percebi que em seu quadro de trabalhadores, a maioria deles não tem formação nenhuma, apenas simpatizaram pelo trabalho e, ao contrário de muitos resolveram arregaçar as mangas e lutar. São pessoas humildes, trabalhadoras que trocam alguns minutos de folga para prestarem um serviço comunitário. Entendo que essa ONG foi criada com a finalidade de fazer com que as pessoas se descubram como agentes de transformação social. É dentro das próprias comunidades que esses agentes são encontrados, treinados e enviados em favor dos próprios amigos, parentes e visinhos.
A pastoral da Criança é um lugar para pessoas que querem fazer algo pelo próximo, que se importam com a situação do outro, que não tem muito tempo livre mas sabe doar o pouco que tem para mudar a realidade de crianças que muitas vezes não tem o que comer. Não é um lugar para doar donativos e sim esperanças. Não causa dependência e sim liberdade pois como um de seus lideres falou, “ela não pega o peixe e sim ensina a pescar”. Com suas simples ações muda vidas, constrói liberdade e forma caráter. Exercer a cidadania não é só cumprir com suas obrigações como muitos entendem e sim promover igualdade, usufruir de seus direitos sem esquecer do direito do outro e, sempre que possível faze-los alcançar tais direitos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
• O que é cidadania" de Maria de Lourdes Manzini Covre
• http://pt.wikipedia.org/wiki/Cidadania
• Dicionário Aurélio
• http://www.pastoraldacrianca.org.br/
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