sábado, 28 de agosto de 2010

Resenha Crítica do livro "O que é o método Paulo Freire?"


O autor da obra, “O que é o método Paulo Freire”, Carlos Rodrigues Brandão nasceu na cidade do Rio de Janeiro no dia 14 de abril do ano de 1940. Desde 1963 ele trabalha com grupos e movimentos de educação popular, prática que iniciou no movimento de educação de base e que hoje continua através do Centro de Estudos de Educação e Sociedade (CEDES) e do Centro Ecumênico e Informação (CEDI). Ele é antropólogo e trabalha no Departamento de Ciência s Sociais da Universidade de Campinas (UNICAMP). Ensinou na Faculdade de Educação da Universidade de Brasília, da Universidade Federal de Goiás e da Universidade Católica de Goiás. Tem várias publicações na área popular como: Cavalhadas de Pirenópolis; O Divino, o Santo e a Senhora: Peões, Pretos e Congos; A Folia de Reis Mossâmedes; Deus te Salve, Comer, Colher e pela Brasiliense.

Logo no início da obra, o autor tenta entender o por que e para quê serve o método de Paulo Freire e descreve detalhes de uma viajem realizada ao nordeste onde teve contato direto com os Justificarlugares que foi palco da aplicação do método. Na cidade de Mossoró, participou de uma semana de arte e filosofia que tinha sua programação elaborada toda em literatura de cordel pelo educador Crispiniano Neto. Nesse contexto o autor pode conhecer mais de perto e estudar todo o método de Paulo Freire. O interessante é que a viajem surgiu bem no período em que ele estava iniciando as primeiras linhas do livro.

No segundo capítulo, o autor discorrer historicamente sobre o método em si. Como ocorreu, onde, em que circunstâncias foi elaborado e para quem foi. Discorre sobre a aplicação do método como também sobre seus resultados. Leva-nos a voltar no tempo para, junto com Paulo Freire, sermos exilados devido sua forma de educação ter sido considerada perigosa durante o regime militar, porém faz-nos ressurgir com ele na descoberta do método por outros países mostrando para os brasileiros que sua produção também poderá ser significativa para o mundo. Em seu exílio, quanto mais o regime militar tentava tornar esquecido este autor com suas teorias consideradas ofensivas, mais ele era convidado por inúmeros outros países pelo mundo. Termina o capítulo com o retorno de Paulo Freire para o Brasil para aprender tudo de novo e, quem sabe tentar começar do zero.

No ABC do método, que é o terceiro capítulo o autor no repassa o passo a passo da forma de ensinar de Paulo Freire começando com a negação da imparcialidade da educação. Nenhuma forma de educar é considerada neutra. Como site o autor Cipriano Neto no início do livro em seus cordéis “quem dá o mote, dá a idéia”. Outra coisa interessante que o autor ressalta é que a cartilha utilizada na época com frases curtas e sem nexo eram totalmente vazias e sem sentido algum para os analfabetos e que era frustrante para os indivíduos passarem o dia inteiro trabalhando para passarem a noite repetindo frases do tipo “IVO VIU A UVA” ou “A AVE É DO IVO”. O método de Paulo freire era todo baseado e elaborado dentro do contexto em que o educando estava inserido. Os educadores ates de mais nada adentravam no universo cultural dos educandos investigando, pesquisando, levantando e descobrindo. De caderno de campo na mão, eles saiam em busca de dados que facilitasse seu planejamento. Palavras, frases, ditos, provérbios, vícios de linguajem, versos e músicas que traduzissem a vida.

Dando continuidade aos seus escritos o autor começa a desfragmentar o método para ornar mais fácil a sua interpretação. Começando com as palavras geradoras que são retiradas do contexto cultural do local em que os educandos estão. Mostra o porquê de palavras como Eva, Ivo, ovo, ave e sapato são tão universais quanto vazias. A partir dessas palavras se estudava os fonemas e as demais peculiaridades da língua. Com apenas cerca de 16 a 23 palavras era desenrolado todo o processo de alfabetização. No mesmo capítulo o autor faz um breve relato de como o método foi desenvolvido em outros estados brasileiros e que resultados causaram.

Depois de citar as palavras geradoras, surgem os temas que eram extraídos das próprias palavras. O método tenta demonstrar que cada palavra tem certo peso pragmático com teor afetivo e crítico. Cada palavra encontra-se carregada de dor, luta e esperança de quem tenta sobreviver do trabalho, vive passando fome e lutando para não perder o pouco de terra que ainda lhe resta. Nessa perspectiva palavras como “trabalho” transforma-se tema gerador que orienta todo o processo de aprendizagem. Os temas geradores são distribuídos em fichas que servem para orientar o trabalho. Daí parte a elaboração dos slides ou fichas de cultura que são desenhos feitos para se provocar o debate, as primeiras idéias entre os animadores, nome dado aos orientadores, e os educandos, ou até mesmo entre apenas os educandos. Essas fichas culturais às vezes eram trazidas prontas. Outras vezes eram criadas na própria comunidade por artistas locais.

Nas páginas seguintes o autor navega pelo trabalho com a fala, nos famosos círculos de cultura. Segundo ele, são assim chamados porque o propósito não é apenas ensinar a ler e a escrever, mas produzir modos novos e próprios, solidários e coletivos de pensar. Uma educação onde todos aprendem juntos, de fase em fase, de palavra em palavra, constituindo em outra maneira de fazer a cultura onde o homem torna-se sujeito de sua própria história, idéia chave no pensamento de Paulo Freire. Essas eram, segundo o autor, as finalidades das fichas de cultura, sugerir o debate a partir das imagens e situações existenciais. O método de Paulo Freire não dispensava as famílias silábicas, pelo contrário, elas eram trabalhadas só quede uma forma diferente, retirava-se a sílaba da palavra geradora e, a partir dela trabalhava-se sua família.

A proposta do método era ajustar os métodos de ensino já existentes, inovar e criar novas alternativas. Ele sita alguns exemplos como do Nordeste e do Rio de Janeiro onde o método foi utilizado para ilustrar suas observações sobre seu uso, um trabalho pedagógico de criação através do fazer solidário devendo partir da coragem de se recriar cada vez mais. O autor também faz menção do trabalho realizado no interior de Goiás onde pessoas alfabetizadas do próprio lugar foram preparadas para fazerem o trabalho do animador. Dando continuidade o autor também faz menção a um projeto de alfabetização dos funcionários de uma universidade de São Paulo onde foi identificado que 40 deles não eram ainda alfabetizados.

Hoje o método é visto como um rico instrumento que se encontra a serviço dos movimentos populares. De um modo ou de outro o método de Paulo Freire sempre foi empregado dentro de programas de educação de adultos, de educação de base, de educação popular. Na maioria dos casos os educadores estão tentando recuperar a prática de um método de educação popular criado há mais de 20 anos, procurando redescobrir o uso de um instrumento de trabalho com o povo através da educação numa nova realidade social e cultural.

Esse livro é bastante interessante e rico em conteúdo, com uma linguagem simples e objetiva o autor nos faz entender como funcionava e funciona o método de Paulo Freire. Os livros acadêmicos geralmente possuem uma linguagem muito elevada exigindo bastante dos leitores, porém o diferencial desse livro está na linguagem bastante simples. Vale apena não só ler o livro como também adquiri-lo principalmente quem até agora ainda não conseguiu entender como funciona o método de Paulo Freire.

Livro resenhado por Claudio Rosa

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